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Os avanços tecnológicos vêm causando profundas transformações na economia em geral, propiciando inovações na forma como produtos e serviços são produzidos forçando à criação de novos modelos de negócios como empresas online e a digitalização dos meios físicos da cadeia produtiva e consequentemente de sua distribuição; toda essa nova realidade mudou radicalmente as relações sociais e econômicas nas principais metrópoles do planeta. As redes sociais criaram um mercado sem fronteira, tudo que nelas circula, chega imediatamente a seu destino, seja qualquer tipo de mídia desde que seu conteúdo seja digital. Para aqueles que entenderam essa revolução digital, ficou menos complicado compreender como os produtos comercializados pagos ou gratuitos podem alavancar seus negócios, isso inclui o mercado do livro e as implicações sobre o futuro de sua cadeia produtiva, gerando desafios para empresas privadas como editoras e gráficas, além de setores do governo. O blog fez uma análise, ainda que superficial, baseada em pesquisas e artigos do setor, dos impactos de todas essas mudanças na forma como a cadeia produtiva do livro vem se adaptando para sobreviver a esse novo mercado.
Setor Editorial
Os segmentos que compõem o setor editorial brasileiro são compostos pelos livros didáticos (LD); os livros científicos, técnicos e profissionais (CTP); as obras gerais (OG) e os livros religiosos. Os conteúdos digitais cujo potencial de desenvolvimento envolve diversas possibilidades, como as ferramentas de aprendizagem adaptativa, têm tido bom aproveitamento nos segmentos de livros didáticos (LD) e de livros científicos, técnicos e profissionais (CTP).
Cadeia tradicional
Dando como exemplo apenas o segmento de OG no mercado europeu do livro, segundo pesquisas realizadas, argumentam que o aumento na dispersão de preços dos livros digitais é o resultado mais imediato desse cenário de mudanças tecnológicas. Segundo o autor, o preço de varejo de um livro, bem como as práticas e regras que governam tal preço, oferece um dos parâmetros-chave para a compreensão do status e da evolução de um dado mercado. Nesse sentido, a dispersão de preços poderia confundir os consumidores, o que reduz a confiança de leitores no formato digital do livro. Essa é uma das explicações oferecidas pelo autor para a baixa penetração dos e-books no mercado europeu, em especial quando comparado à realidade do mercado norte-americano. O fato é que a indústria editorial observou, ao longo dos últimos anos, um revigorado movimento de entrada de novos investidores, resultado da mudança de paradigma tecnológico que, por sua vez, se traduz na difusão, ainda que em ritmos distintos em vários países e segmentos, das tecnologias digitais por toda a cadeia produtiva do livro.
Autopublicação
O mundo digital fez surgir o ebook no mercado do livro e, consequentemente, propiciou uma revolução na oferta de livros porque surgiu, juntamente com eles, um novo ator na cadeia produtiva: o autor independente. A autopublicaçao, propiciada por grandes plataformas online como a Kindle Direct Publishing da Amazon e a AgBook do Clube de Autores, só para citar algumas, alavancou uma grande oferta de publicações sem precedentes. É a chamada bibliodivesidade (surgiu no Chile lá nos findos anos 90 do século passado criada por editores independentes para expandir a circulação de livros), por aumentar a oferta de novos títulos à disposição dos leitores que pagarão bem menos por essas obras vendidas pelas plataformas. No entanto, isso não pareceu incomodar as editoras; e os especialistas do setor dão duas explicações. Para as editoras, boa parte dessas obras por terem baixa qualidade editorial, não vai lhe oferecer concorrência direta e depois, esses autores independentes não conseguem boa rentabilidade ou nem sequer recuperam o custo que tiveram para publicar seus livros digitais. Por outro lado, se alguma dessas obras passar a se destacar com grandes tiragens, desperta a atenção das editoras. Para o autor será mais interessante ter sua obra com os serviços disponibilizados por elas que dará maior visibilidade a seu livro com marketing de qualidade e comercialização de suas publicações. Assim entendem os especialistas que as editoras não veem na autopublicação uma ameaça ao seu negócio.
Impressão sob demanda
A impressão sob demanda – print on demand (POD) – é um processo de produção de obras impressas orientado pela demanda, ou seja, pelos consumidores. A impressão de cadaexemplar só ocorre quando ele é requerido pelo comprador, exatamente na quantidade necessária. Várias empresas oferecem serviços de POD em diversos países do mundo. Embora essa modalidade de produção não se beneficie de economias de escala e, portanto, acarrete maior custo unitário, ela apresenta vantagens relevantes, entre as quais algumas das apresentadas pelo livro digital, como a eliminação de estoques de produtos e a maior flexibilidade na distribuição. Ainda que a tradicional impressão offset gere elevados ganhos de escala e, consequentemente, seja vantajosa para grandes tiragens, o custo logístico de manutenção e administração dos estoques de livros e as frequentes sobras de edições podem encarecer excessivamente as pequenas edições. Dependendo do volume das unidades não comercializadas que retornam ao editor, a margem de lucro gerada por aquela obra pode ficar seriamente comprometida. Nesse contexto, a POD torna-se mais atrativa e pode constituir uma alternativa financeiramente interessante, que vem sendo adotada, particularmente nos EUA.
O Brasil
Para efeito de conhecimento como o Brasil vem se situando nessa era digital, citarei uma pesquisa realizada há alguns anos em 2016 patrocinada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) em que apontou o mercado editorial brasileiro estimado em R$ 5,2 bilhões em 2015, figurando entre os dez maiores mercado editorial do mundo . Uma evidência da sua relevância é a atração de grandes players internacionais, que investem no mercado brasileiro por meio da aquisição de editoras nacionais. Outra forma de constatar a importância do mercado brasileiro é a dimensão do segmento de LD e a sua dinâmica, marcadas pelas compras governamentais que atraem editoras de mercados já maduros e permitem o crescimento de grandes editoras nacionais, como FTD, Saraiva e Abril Educação. No meio digital, há um enorme potencial a ser explorado. A base de smartphones e tablets cresceram em ritmo acelerado. A penetração do livro digital, por sua vez, era tímida e apresentava crescimento significativo. Assim, a caracterização do Brasil como o décimo maior mercado editorial no ranking mundial pode mascarar certas dificuldades enfrentadas pelo mercado editorial brasileiro, que poderá contar com a contribuição das novas tecnologias digitais para superá-las.
Concentração de mercado
As análises de tendências de concentração no mercado editorial com os efeitos das novas tecnologias nesse processo, também são válidas para a realidade brasileira. Embora não haja produção sistemática de indicadores de concentração para o nosso mercado editorial, não há razões para supor, a princípio, que o mercado local apresente comportamento distinto dos demais. Aqui também se observa maior propensão à concentração nos segmentos voltados à educação, tanto em LD como em CTP, e menor tendência nos segmentos de OG, em que as menores barreiras à entrada estimulam o ingresso de novos investidores em paralelo a movimentos de F&A ( fusão e aquisição).
Hábitos culturais
Em uma das primeiras edições da pesquisa sobre hábitos de leitura no Brasil, referente a 2015, revelou-se que apenas 55,6% dos brasileiros podem ser considerados leitores. Em 2007, esse número era de 55% e, em 2011, de 50% .Para os entrevistados, a leitura de livros em papel ou digitais foi classificada como a décima opção de lazer durante o tempo livre. Entre os não leitores, quase 50% disseram não gostar de ler ou não saber como ler. Até aquele momento, 74% dos entrevistados nunca haviam lido um livro digital e 59% nem sequer tinham ouvido falar dessa tecnologia. Assim, em um contexto de disputa acirrada pelo tempo livre, ganha relevância a reflexão sobre novas formas de estimular e manter o interesse pela leitura. O principal desafio a ser superado, portanto, é a formação de novos leitores, o que beneficiaria não apenas livros digitais, mas a leitura em qualquer meio. Nesse sentido, as tecnologias digitais têm potencial para ampliar o acesso à leitura. O acesso geográfico é expandido, já que o início da leitura pode ser instantâneo por meio de quase qualquer aparelho com conexão à internet. Além disso, o acesso também se amplia do ponto de vista econômico, já que o livro digital tem condições de oferecer preços menores quando comparados às publicações impressas. O Brasil poderia se beneficiar dessas tecnologias, ampliando a oferta de livros a preços mais em conta em todas as regiões, com impacto mais expressivo nas regiões distantes dos grandes centros.
Em meio a essa nova configuração econômica, em que tecnologia, inovação e conteúdo cultural se tornaram fatores competitivos diferenciais, as empresas e o setor público devem estar preparados para acompanhar e compreender o desenrolar das tendências do mercado de conteúdo brasileiro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BNDES. www.bndes.gov.br, 2016. Cadeia produtiva do livro no Brasil | Infográfico (bndes.gov.br).Disponível<https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/conhecimento/noticias/cadeia_do_livro>. Acesso em: Acesso em: 01 de ago. de 2023.
EDNEIPROCÓPIO. www.edneiprocopio.com.br, c2023. A cadeia produtiva, a indústria e o mercado do livro na Era Digital - Ednei Procópio (edneiprocopio.com.br). Disponível em: <https://www.edneiprocopio.com.br/2019/07/15/a-cadeia-produtiva-a-industria-e-o-mercado-do-livro-na-era-digital> Acesso em: 01 de ago. de 2023.
MELO, GUSTAVO; NIKO, DIEGO; GARAVINI, FERNANDA; ZENDRONI, PATRICIA. BS 43 Tendências da era digital na cadeia produtiva do livro_P_BD.pdf (bndes.gov.br). Disponível em: <https://web.bndes.gov.br/>. Acesso em: 01 de ago. de 2023.
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