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A UNIÃO DA LITERATURA E DO JORNALISMO PARA RETRATAR UM PEDAÇO DO BRASIL


OS SERTÕES DE EUCLIDES DA CUNHA



Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha foi um escritor, poeta, ensaísta, jornalista, historiador, sociólogo, geógrafo, poeta e engenheiro brasileiro. Ocupou a cadeira 7 na Academia Brasileira de Letras de 1903 a 1906.Nasceu em Cantagalo, Rio de Janeiro, no dia 20 de janeiro de 1866. Filho de Manuel Rodrigues da Cunha Pimenta e Eudósia Alves Moreira da Cunha. Faleceu no Rio de Janeiro no dia 15 de agosto de 1909.Foi correspondente do jornal O Estado de São Paulo para cobrir a guerra no município de Canudos no sertão da Bahia. Publicou Os Sertões: Campanha de Canudos em 1902, dividida em três partes: A Terra, o Homem, A Luta. Essa obra regionalista retrata a vida do sertanejo , descrevendo e analisando seu modo de vida e condição social; as origens de sua terra, o sertão brasileiro e o desfecho com a cizânia de Canudos. O tema principal que é a Guerra de Canudos, conflito que resumiu o Brasil no fim do século XIX, provocando a discussão de problemas que extrapolavam a rebelião que ocorreu no sertão da Bahia. Euclides da Cunha descreveu algumas partes da guerra de Canudos a partir de fontes orais, como os poemas populares e as profecias religiosas, encontrados em papéis e cadernos nas ruínas daquele povoado. A obra critica o nacionalismo exacerbado da população das grandes cidades em torno do litoral brasileiro. Elas ignoravam a realidade daquela sociedade mestiça nos confins dos sertões por isso apoiaram cegamente a destruição daquele povoado. Segundo o autor, cometendo um crime contra si própria, este é o grande tema de Os Sertões. O grande personagem do livro, talvez seja Antônio Conselheiro, um fanático religioso que arrastou uma população inteira ao extermínio. Ele foi o produto, segundo aponta a obra, de séculos de atraso e miséria, em uma região separada não só geograficamente do resto do país, mas também fora do tempo, numa condição de total miséria e fome. O livro Os Sertões deu início ao Pré-modernismo no Brasil que durou de 1902 a 1922. Duas principais características desse período literário como o determinismo e a ciência são facilmente detectadas nessa obra fabulosa de Euclides da Cunha. O homem é apresentado como produto de três fatores: meio ambiente, raça e momento histórico e as análises com base na Antropologia, Geologia e outras áreas como forma ideal de compreensão humana da realidade.


Euclides da Cunha, ao utilizar um estilo narrativo épico bem apurado , traçou um retrato dos elementos que compõem a guerra de Canudos contextualizando-a em três partes: A Terra, O Homem e A Luta. Descreveu, detalhadamente, as condições geográficas e climáticas do sertão, a origem das particularidades de seus habitantes como o sertanejo, o jagunço e em especial, o surgimento de um líder espiritual carismático. Analisou o conflito entre duas sociedades, embora pertencentes ao meu país, dispares no modo de vida. Essa narrativa, até então impraticável no meio literário tão acostumado ao romantismo da alta sociedade, rompe com a dominação literária da época e inicia uma análise mais realista que aborda temas preponderantes da sociedade brasileira em transição. Vale destacar o seu estilo de linguagem bastante particular, despertando a atenção de grandes escritores por fazer uso frequente de expressões que sugerem um conflito interior sem solução, de um vocabulário rebuscado e repleto de termos científicos. Essa objetividade científica na abordagem de um problema levou o autor a buscar termos precisos, tornando sua linguagem especializada e fora do alcance de alguns leitores, mas necessária pelo objetivo de tornar exata a descrição de objetos e conceitos. Esse tipo de linguagem, pelo uso exagerado de oposições e contrastes, era denominado de barroco científico pelos críticos da época devido às suas construções engenhosamente planejadas.


Vamos acompanhar o resumo dessa magnifica obra de Euclides da Cunha que não deixa nada a desejar para obras como Guerra e Paz de Tolstoi com seu Realismo quando descreve os campos de batalha, o heroísmo dos combatentes e sociedade; e nem do Naturalismo de Charles Darwin, com a Origem das Espécies, com sua descrição minuciosa da formação da terra e do indivíduo.


A TERRA

O autor começa descrevendo o roteiro que cruzou para chegar ao sertão da Bahia. Partindo do Estado de São Paulo, passando por Paraná, Goiás e Minas Gerais, onde faz belíssimas descrições das áreas montanhosas que compõem esse imenso estado brasileiro. Dando seguimento com uma descrição minuciosa da região que compreende o planalto brasileiro para explicar as causas de algumas formações e deformações dos sertões ao nordeste e norte do país. Destaca, especificamente, o sertão e suas áreas desérticas que compõem partes de seis estados brasileiros. Faz uma análise com riqueza de detalhes utilizando linguagem específica, partindo para a descrição das particularidades do deserto da Bahia começando com uma visão geral ( o sertão) e sua vegetação ( caatinga, juazeiro, jurema e as fases de retomada da vegetação após o período de seca denominada ressurreição da flora. O autor ressalta algumas passagens de secas históricas ocorridas no Norte do país, aponta como possíveis causas as seculares queimadas provocadas desde a população indígena ao sertanejo. Sublinhou a seca lendária de 1791-1792 que sacrificou o norte da Bahia ao Ceará o que teria provocado reações dos governos coloniais emitindo decretos como forma de conter esses desmatamentos e o mal uso da terra. Um desses decretos do governo colonial de 1799 proibia queimadas na Bahia e Pernambuco; e continua relatando experiências que através da história resultaram em bons exemplos de combate à seca. Exemplo da passagem que denominou COMO EXTINGUIR O DESERTO: colonização romana na Tunísia que reverteu o processo de seca naquela região do deserto africano.


O HOMEM

Narra as origens de Canudos e cita as possíveis causas do desenvolvimento do Sul em detrimento da pobreza do Norte. Ele aponta que uma das causas estaria nas formas de explorações coloniais, demonstrando ter estudado a fundo a gênese das raças (índio, português, negro) e de sub-raças (o mulato; mestiço; caboclo). Caracterizou o sertanejo como um forte, mas, usando de antíteses e paradoxos, o chamou de “Hércules-Quasímodo”, comparando-o a dois personagens clássicos do imaginário popular dessimétricos na aparência: Hércules , personagem de força e beleza e Quasímodo, uma pessoa disforme e muito esquálida. Entretanto, ele chegou à conclusão de não haver um tipo antropológico brasileiro especifico. Nesta parte surge Antônio Conselheiro, nascido em uma família problemática envolvida em violentas lutas entre famílias com cometimentos de crimes de toda sorte. Esses conflitos levaram o jovem Antônio Maciel a sair de casa e peregrinar pelo sertão, tornando-se funcionário público para, posteriormente, tornar-se um carismático líder espiritual, pregador e fundador do arraial de Canudos, considerado pelo autor como um grande homem pelo avesso.


A LUTA

É a parte central da obra onde narra as campanhas das expedições do Exército brasileiro. As tropas foram enviadas para sufocar a rebelião de fanáticos em um povoado denominado como Canudos no sertão da Bahia. Era constituído por jagunços , cangaceiros e ex-lavradores. Canudos já havia crescido de forma exorbitante, estimava-se cerca de 20.000 habitantes no arraial, em sua maioria eram velhos, crianças, donas de casa e ex-trabalhadores de propriedades rurais da região.


PRIMEIRA EXPEDIÇÃO

As autoridades de Juazeiro se recusaram a mandar a madeira que Antônio Conselheiro adquirira para cobrir a igreja de Canudos. Inconformados, os jagunços, então, decidiram tomar à força o que haviam comprado e já estava pago. Avisado das intenções dos homens de Conselheiro, o governo do Estado manda que em Juazeiro se organize uma força que elimine o foco de banditismo. Cem homens, comandados pelo tenente Pires Peneira, são surpreendidos e derrotados pelos jagunços no povoado de Uauá.


SEGUNDA EXPEDIÇÃO

Quinhentos homens, comandados pelo major Febrônio de Brito e organizados em colunas maciças, são emboscados pelos jagunços em terrenos acidentados no Morro do Cambaio e em Tabuleirinhos. Destacam-se os bandidos João Grande e Pajeú, este último considerado por Euclides verdadeiro gênio militar. Reduzidas a cem homens, as tropas do governo decidem voltar.


TERCEIRA EXPEDIÇÃO

Mil e trezentos homens, comandados pelo coronel Moreira César, armados com canhões Krupp, recém-importados da Alemanha , sem planos definidos, partiram para Canudos em fevereiro de 1897. O coronel Moreira César, levado pela impressão de fragilidade e impotência dos inimigos, decide atacar a cidade de frente, do Morro da Favela. Os jagunços reagiram usando como estratégia o profundo conhecimento da terra e protegidos pela irregularidade do relevo buscaram o corpo-a-corpo, logrando em desorganizar as tropas. A retirada foi desastrosa, os soldados aterrorizados pelo ímpeto do combatente sertanejo, abandonaram armas, munições, os canhões Krupp e o próprio corpo do coronel Moreira César que havia sido ferido em combate sendo capturado e morto pelos jagunços.


O FIM DA LUTA

Cinco mil homens, comandados pelos generais Artur Oscar, João da Silva Barbosa e Cláudio Savaget, são enviados ao Estado da Bahia pelo sul. As tropas dividiram-se em duas colunas como estratégia para o ataque à cidade de Canudos,entretanto, a primeira é cercada pelos jagunços no Morro da Favela. A segunda coluna que saíra vitoriosa em Cocorobó, socorre a primeira evitando um massacre. Conseguem tomar boa parte do arraial, mas os soldados são acometidos pela fome e pela sede. Em agosto de 1897, oito mil homens são deslocados para a região, comandados pelo próprio ministro da Guerra, o marechal Carlos Bittencourt. Canudos é cercada em todas as suas saídas, cortaram o abastecimento de água como forma de sufocar o inimigo. Em seguida, iniciou-se um ataque bélico pesado contra o arraial com um tiro de um potente canhão que atinge a torre da principal Igreja da cidade. Muitos sertanejos não quiseram se render movidos pelo fanatismo, esperavam a salvação eterna, e muitos desses resistentes sertanejos que não se renderam foram degolados para pôr fim à investida . Perpetrou-se dessa forma o crime de uma nacionalidade inteira, no dizer de Euclides da Cunha. Ele acompanhou tudo do Morro de Uauá, de onde escrevia suas reportagens para o jornal A Província de São Paulo, hoje O Estado de São Paulo, mais tarde transformadas nessa obra grandiosa Os Sertões.

O livro Os Sertões estabeleceu uma perspectiva de saber histórico e geográfico que foi capaz de contribuir para abertura de um caminho que possibilitasse a leitura do Brasil a partir do Nordeste. Expressando uma visão crítica dos problemas brasileiros, Euclides da Cunha e outros autores desse período literário como Monteiro Lobato, Graça Aranha e Lima Barreto, em maior ou menor grau, acabaram por antecipar uma das tendências mais marcantes do Modernismo: a criação de uma literatura que investigasse mais profundamente o Brasil.


Obra: Os Sertões

Autor: Euclides da Cunha

Ano: 2016

Páginas: 596

Formato: Pockat

Tema: Guerra e conflitos sociais

Prefácio: M. Cavalcanti Proença

Nota preliminar: Euclides da Cunha ( 1° edição de 1901)


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